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Somos a E.B.Dr. Afonso Rodrigues Pereira e vamos publicar alguns dos textos que escrevemos,trabalhos que fazemos, notícias que tenhamos para dar... Também estamos na net!

27.1.05

"Natal é quando o Homem quer"

... e para o provar aqui fica este bonito texto que o Diogo Santos do 7º A escreveu e que nos faz reflectir sobre os valores do Natal e de sempre. Os valores que fazem de nós seres humanos "à séria".

UMA HISTÓRIA DE NATAL


É aqui que começa a minha história. Muito bem, eu sou o Pedro e tenho 12 anos, a minha irmã tem 9, o meu irmão 2 e vivemos, com os nossos pais no maravilhoso bairro da Colina Azul. Também foi aqui que, este ano, passei o melhor Natal da minha vida. Vou-vos contar tudo, o que aconteceu e como aconteceu. Muito bem, aqui vem a minha História de Natal.


Amanhecia no bairro da Colina Azul. As pessoas começavam a sair das suas respectivas casas para ir trabalhar. Só se ouvia o barulho das portas das garagens a abrir e os carros a saírem delas. E numa dessas garagens, um homem entrava no carro, despedindo-se da mulher.
- Adeus, querida! – e deu-lhe um beijo de despedida.
- Adeus, amor! – despediu-se ela – Tem um bom dia de trabalho!
Esse homem chamava-se Carlos e vivia naquela acolhedora casa com a sua esposa, Susana e os seus três filhos: Pedro, Rita e João. Era uma família grande, mas muito feliz... a minha!!
Voltando para casa, a minha mãe dirigiu-se à cozinha para nos preparar o pequeno-almoço. Ela aquecia o leite, eu preparava as torradas e a minha irmã (que diz que já é crescida e que consegue fazer as coisas sozinha) punha manteiga ou doce no pão. Também havia sumo, bolachas e cereais.
- Agora, vamos aqui tratar do meu Joãozinho! – exclamava, sorridente a minha mãe – Quem é o meu bebé, quem é?
- Mãe... – dizia-lhe eu – Pára com isso! Sempre a mesma...
- Porquê, estás, com ciúmes “amorzão”?
- Mãe! Por favor...
- E tu, minha pombinha? – disse ela à minha irmã.
- Não, chega! – disse eu, já aborrecido.
Fui para o meu quarto. Lá, olhei para o calendário: 10 de Dezembro. Estávamos quase no Natal – a minha época favorita. Andava a fazer a contagem decrescente desde o dia 1 de Dezembro e faltavam 15 dias para o Natal.
Estava eu nos meus pensamentos, quando alguém bateu à porta do meu quarto. Reconheci a voz da Rita a chamar-me.
- Pedro! Pedro! Estás aí? Posso entrar?
Hesitei durante uns instantes. Depois, finalmente, decidi abrir a porta.
- Diz lá, Rita!
- Bem, eu, humm... eu queria falar contigo – disse ela.
- Então vá, entra lá!
Fechei a porta devagar e sentámo-nos na minha cama.
- Não devias ficar zangado com a mãe, sabes que ela gosta muito de nós, mas como o mano ainda é pequenino, precisa de um bocadinho de mais atenção. Percebes?
Fez-se silêncio durante uns instantes. Não esperava que a minha própria irmã me falasse assim desta maneira, tão calma, tão compreensiva, tão afectiva...
- Sabes um coisa? Acho que tens razão...
- Claro que tenho! Quantas vezes é que a mãe já te disse isto? – observou ela.
- Se queres que te diga, não sei bem. O meu problema é que... é que...
- ... é que tens muitos ciúmes! – disse ela, acabando a minha frase envergonhada.
Nisto, ouvi a voz da minha mãe.
- Pedro, Rita, vejam as horas! Vocês têm aulas, ou já se esqueceram?
- Vamos já! – gritámos os dois ao mesmo tempo.
- Lembra-te do que te disse, mano!
- Obrigado, mana!
Mais reconfortado, saí do quarto com a minha irmã e fechei a porta atrás de nós. Dirigimo-nos ao escritório, onde a minha mãe já tinha as mochilas preparadas.
- Vá, ponham isto às costas e preparem-se para um novo dia! – disse ela, entusiasmada.
Eu andava no 7º ano e a minha irmã no 4º. A minha mãe trabalhava no Jornal “O Litoral” , como jornalista. Eu frequentava a Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos Camilo Castelo Branco e a minha irmã a Escola Básica do 1º Ciclo da Colina Azul. Para o ano, ela viria para a minha escola e, ultimamente, não falava de outra coisa.
- Muito bem, Rita. Ficas aqui! – disse a mãe, parando o carro em frente à escola da minha irmã.
- Adeus, mãe! Adeus, manos! – despediu-se ela.
- Adeus, Rita!
- Adeus, mana!
A minha mãe continuou a andar de carro e, um pouco adiante, parou ao pé da minha escola.
- Então, adeus Pedro!
Eu não lhe respondi. Ainda chateado com o sucedido, abri a porta e saí do carro sem dizer nada. Depois de me perder de vista, a minha mãe arrancou em direcção ao infantário do João e daí, seguiria até à redacção do jornal.
Às três e meia da tarde de segunda-feira cheguei a casa, sou sempre o primeiro a chegar. Só depois chega a minha mãe com a minha irmã e o meu irmão e, finalmente, o meu pai.
Quando cheguei a casa, fui para o meu quarto fazer os trabalhos de casa de Língua Portuguesa e Ciências, que eu achei fáceis. Depois, fui para o meu computador jogar o meu jogo preferido.
- Trimm!!! Trimm!!! – o telefone estava a tocar.
Saí do computador e dirigi-me ao escritório, onde o telefone tocava no seu tom habitual.
- Trimm!!! Trimm!!!
- Vai já! Vai já... estou?
- Estou? Então, Pedro?
- Ah! És tu avó!
Era a minha avó materna, a minha preferida.
- Então, sempre vêm cá passar o Natal?
- Vamos sim, podes contar connosco, avó!
- Está bem, a tua mãe está?
- Não, ainda não chegou.
- Então, volto a ligar mais tarde para falar com ela.
- Avó, não te esqueças de fazer o meu doce predilecto!
- Claro que não!
- Está bem, então adeus!
- Adeus! – despediu-se a minha avó.
Pousei o telefone e sorri. Todos os anos a minha família reunia-se na casa dos meus avós para passar o Natal. Eu adorava!
Tocou a campainha e, à minha mãe, aos meus irmãos e, surpreendentemente, ao meu pai, abri a porta.
- Foi o meu último dia de trabalho na empresa! Estou de férias! – disse o meu pai – Só volto para lá em Janeiro.
“Que bom! O meu pai já estava de férias!” – pensei eu.

E os dias passaram rapidamente. A minha mãe ficou de férias, assim como a minha irmã e eu. Dia 11, dia 12, dia 13,14,15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23!! Faltam dois dias para o Natal! Que alegria! Compras feitas!
Nesse dia, acordei bem cedo, antes dos meus pais, vesti-me e apeteceu-me ir dar um volta lá fora. Sem fazer barulho e em bicos de pés, saí de casa. Foi aí que tudo começou a mudar no Natal deste ano, quando ouvi alguém a chorar.
Andei mais um pouco e vi uma menina pequenina a chorar num banco do passeio. Metia mesmo pena vê-la e ouvi-la. Calmamente, avancei para ela e, sentando-me no mesmo banco, perguntei-lhe:
- Por que estás a chorar?
Ela hesitou um pouco e olhou para mim. Depois disse, muito devagarinho e envergonhadamente:
- Quero... uma... prenda... de... Natal...
- Queres uma prenda? Então, mas os teus pais não te compraram qualquer coisa?
- Não, porque... a minha mãe tem de cuidar de mim e dos meus quatro irmãos e, devido à morte do meu pai, não temos dinheiro para roupa e o pouco que resta, que é para comida, está quase a acabar... somos uma família pobre...
Nisto, desatou a chorar e a soluçar outra vez. Tinha mesmo pena dela e gostava de a ajudar.
- Anda comigo! – disse-lhe eu, dando-lhe a mão – A propósito, como te chamas?
- Sofia... Sofia Marques.
- Eu sou o Pedro!
Dirigindo-me a casa com Sofia, a mãe abriu-me a porta de roupão vestido. Expliquei-lhe tudo o que se tinha passado e, no fim, ela sorriu:
- Entra lá, Sofia! Toma o pequeno-almoço connosco!
Ela agradeceu e tomou, talvez, um dos seus melhores pequenos-almoços.
Entretanto, os meus irmãos e o meu pai juntaram-se a nós.
Tivemos de contar tudo outra vez. Após alguns minutos de conversa, chegou-se a uma conclusão: iríamos ajudar a família da Sofia, dando-lhe roupa e comida.
E foi nesta altura que eu pensei, seriamente, na zanga que eu tinha tido com a minha mãe, sem necessidade, enquanto (pensei eu), outras mães, nem comida tinham para dar aos filhos, ao contrário da minha, que me dava roupa, comida e brinquedos...
- Então, vamos ajudar a Sofia! – disse eu, entusiasmado.
Primeiro, começámos por escolher algumas roupas usadas dos meus pais, minhas e dos meus irmãos. Depois, fomos ao supermercado comprar comida para aquela família carente. Iogurtes, leite, frutas, legumes, carne, peixe, pão, bolachas e, ainda, por ser Natal, frutos secos, não faltava no carrinho de supermercado.
Só fiquei surpreendido por ver um fato de Pai Natal e um saco de prendas no carrinho.
- Para que é isto? – perguntei à minha mãe.
- Foi ideia do pai. Já vais ver para que é.
Levámos tudo para a casa da Sofia, onde explicámos, à sua mãe, a qual ficou muito, muito, mas mesmo muito feliz.
- Muito obrigado! Muito obrigado mesmo! Não tinham de se incomodar por minha causa!
- Aqui tem! – disse o meu pai.
- Nem sei o que dizer! – disse a mãe de Sofia.
- Não tem de dizer nada, dona... dona...
- Oh, desculpe... chamo-me Adelina.
Levámos tudo para dentro de casa. A minha mãe fez o almoço de Natal (teria de ser mais cedo, pois iríamos, ao fim da tarde, para a casa da minha avó), eu e os meus irmãos brincámos com a Sofia e os seus quatro irmãos: Rui, Catarina, Diogo e Marta e o meu pai montou uma árvore de Natal, que arranjou no supermercado, decorou-a com fitas, bolas, luzes, anjinhos, estrelas e montou o presépio. A D. Adelina só olhava para nós, espantada, por tamanha surpresa.
Foi fantástica esta “ceia de Natal”, com bacalhau, perú e doces. Era, de certeza, a melhor ceia de Natal de sempre para aquela família, em muitos anos. No fim, estávamos todos cansados e os dois irmãos mais novos de Sofia já tinham adormecido. Eu estava muito contente com aquela festa. Até cantámos canções de Natal, oferecemos um presente a cada membro daquela família e o meu pai vestiu-se de Pai Natal, animando-nos a todos.
Ao fim de algum tempo, tivemos de nos ir embora. Houve despedidas, apertos de mão, beijinhos e muitos “adeus!”.
Íamos a sair do portão, quando a Sofia me chamou:
- Pedro! Pedro! Espera aí!
- Diz lá, Sofia!
- Eu só queria agradecer pelo Natal mais fantástico e divertido que eu alguma vez me lembro! Muito obrigado!
Eu, comovido, dei-lhe um forte abraço.
- Adeus, Sofia!
- Adeus, Pedro!
Já em casa, descansámos um pouco, conversámos sobre a família da Sofia e preparámos as coisas para, no dia seguinte, irmos para a casa dos meus avós. Foi muita emoção para um dia só!
Finalmente, 24 de Dezembro! Vamos para a casa dos meus avós! Seguimos viagem após o almoço e decidi fazer o mesmo que os meus irmãos, adormecer...

Acordei deitado no sofá da sala dos meus avós. A árvore de Natal brilhava ao pé da televisão, a mesa estava pronta para a ceia e os meus pais estavam a olhar para mim.
- Então Pedro, já acordaste? – perguntou a minha mãe.
- Sim, já. Eu... desculpa, mãe...por aquela birra...
- Ora, não tem importância, o teu pai também é muito ciumento...
Rimos muito e, finalmente, chegou a hora de jantar. Comemos bastante e divertimo-nos a valer. E eu sorria, pois sabia que este não era o melhor Natal só para mim. Lembrei-me da Sofia, dos irmãos e da sua mãe, que também deveriam estar muito felizes.
Chegada a meia-noite, abrimos as prendas. Os meus pais, os meus irmãos, os meus tios, os meus avós e o meu primo, estávamos todos radiantes por ver o que o Pai Natal tinha trazido.



Então, gostaram? Este foi, sem dúvida, o melhor Natal da minha vida. Quando regressámos a casa, o meu irmão mudou-se para o meu quarto, pois tinha feito 3 anos no dia 18 de Dezembro. Eu não me importei, até gostei. E, a partir daqui, nunca mais fiz birras ciumentas por causa ele.
Afinal, uma mãe gosta sempre de todos os filhos, mais novos ou mais velhos, são sempre especiais na sua vida. Foi esta e outra lição que aprendi, não como irmão mais velho, mas também como pessoa solidária:


SE FIZERMOS COM QUE O NATAL DOS OUTROS SEJA FELIZ, ESTAMOS A CONTRIBUIR PARA QUE O NOSSO SEJA AINDA MELHOR!


Fim